Era uma vez um mundo mágico. Não tão belo, nem tão colorido. Porém, não deixava de possuir sua magia. Encantadora, muy encantadora. A entrada era maravilhosamente linda. Tinha umas catedrais, umas pontas, uma coisa antiga, bem bonita de se ver e tudo isso numa entrada gigantesca. Só não tinha um “Bem vindo!”. Tudo bem, não fazia falta ter. A clientela entrava mesmo assim. E entrava de tudo quanto é jeito e forma. Até de raça entrava. Preto, pintcher, mulher, macaco, saci pererê, Elke Maravilha, Marias, Joões, garçons, milionários, gordas, peludos, de sobrancelha feita, de dente com comida, playboyzinhos-babacas-com-um-iphone, anjos e demônios. Mas entravam todos. Acomodavam-se de uma forma como se fosse o melhor lugar do mundo. E era. E foi. E é. Sei lá.
Era tão grande dentro desse mundo, que existiam muitas possibilidades. Até um labirinto. Diz a lenda que alguns Joões se perderam lá. Passando pela porta direita, do corredor esquerdo, quase ali perto da saída, tinha a parte mais cômica de todas: era uma parede gigantesca, quase infinita. Brilhava muito porque nessa parede tinha muitos e muitos troféus. Uma plaquinha de madeira na frente avisava pra manter distância desses troféus. Outra avisava que eram relíquias de humilhações passadas e que as prateleiras vazias estavam à espera de novas. Todos colecionados com muita humilhação. Por isso do nome. Nem era tão difícil ganhar assim.
Esses dias chegou uma senhora perguntando se não podia levar embora um deles. Mandaram ela ir procurar sarna pra se coçar e deixar eles em paz. Outro dia chegou uma pirralha mimadíssima, perguntando onde ficava a saída. Até mostrei, mas chegando perto, ela perguntou pra moça que-chuta-o-bumbum-com –força-antes-que-você-menos-espere: “Onde eu pego o brinde?”. A moça-da-perna-dura olhou bem pra ela duas vezes – uma de cima em baixo que parecia derreter a pele da baixinha xarope – e num tom de canseira disse à ela que o brinde é chato demais, uns usam e depois já jogam fora, então, pararam de fabricar. A pequena anão de jardim olhou pra ela com aquela cara de superficialidade e disse que era mais fácil ir pra Disney.
Bléh, perdedora.